Demorei a conhecer esta trilogia fantástica chamada Mass
Effect. Lançada em 2007, eu só fui começar a jogar no ano de 2014. Depois
disso, devorei os jogos, livros, animações e quando terminei o último game,
fiquei com aquela sensação de "E agora? O que acontece com os personagens
e com o universo. O que eu faço da vida sem um outro Mass Effect para jogar?".
Para minha sorte (que não fiquei anos esperando por uma
sequência, como quem jogou o ME3 em seu lançamento lá em 2012) em pouco tempo
foi feito o anuncio de Mass Effect: Andromeda. Com aquele trailer fodástico do
personagem vendo surgir um planeta a sua frente pelo visor da nave, virando com
sua arma, correndo por um deserto e pulando em direção ao perigo mortal com sua
faca da OmniTool pronta para o ataque. E BAM!! O logotipo prometendo um novo
jogo ao som daquela música nostálgica.
TODOS A BORDO DO TREM DO HYPE!! CHÚ CHÚ!!
Por meses, nenhum noticia. Tudo seria revelado na E3 deste
ano. Muita especulação, muita informação desencontrada, muita coisa sobre como
será o jogo, como deverá ser as mecânicas, poucas notas oficiais, produtores
dizem que nenhum personagem conhecido reaparecerá no jogo, jogadores descobrem
o nome "Ryder" escondido em algum ponto do trailer. Várias matérias especulativas
e conversas sobre o assunto e etc, etc ,etc...
No dia 7 de novembro de 2015, o "N7 Day", um
trailer com a narração de Jennifer Hale, a voz da protagonista feminina da
trilogia original, Jane Shepard. Falando sobre a exploração, o indomável
espírito humano, como conquistamos o espaço infinito. O trailer dividiu o
fandom. Muita gente gostou, muita gente queria que o trailer fosse narrador por
Mark Meer (a voz da versão masculina, John Shepard).
Começa o debate sobre quem é o verdadeiro protagonista de
Mass Effect. Uns defendem que seria John, já que ele está em todas as capas do
jogo, outros que é Jane, já que a Bioware, produtora do jogo, usou um
personagem feminino nos conceitos iniciais e outros ainda dizem que não há um
protagonista canônico. E a discussão nunca teve fim e nenhum um consenso final
até hoje.
Chegou a E3 e a Bioware apresenta o primeiro trailer oficial
de Mass Effect: Andromeda. Toda a promessa da grande exploração da Nebulosa de
Andromeda, a volta do Mako (o carro de exploração de ME 1), a gigantesca arca e
no fim... uma moça desperta e diz "conseguimos". E em um Twitter dos
produtores a confirmação de que a menina de cabelo castanho era a protagonista
feminina do jogo. "Hi, my name is _____ Ryder", dizia o tuíte.
E desde disso não se fala em mais nada exceto "Como
assim, uma mulher no trailer?"
Sério. Com tudo o que se mostrou no trailer (que foi pouco),
aparentemente os "fãs" de Mass Effect discutem apenas o fato de que a
Bioware resolveu mostrar uma mulher como a protagonista do jogo? Como se fosse
absurdo a empresa resolver que aquela menina seria a protagonista canônica do
jogo.
A cada dois ou três dias havia um novo post sobre o assunto
nos grupos de Mass Effect no Facebook. "Por que a protagonista é
feminina?", "Queremos uma capa sem gênero", "Protagonista
masculino vende mais" e todo o tipo de assunto relacionado a dizer que
aquela menina não poderia ser a nova salvadora da raça humana na série Mass
Effect.
E agora eu me pergunto? Por que a FemRyder não pode ser a
personagem que será a cara de ME:A? Já não tivemos toda uma trilogia com a cara
de "mauzão" do Male Shepard? Do que os jogadores tem tanto medo? Por
que toda essa relutância em aceitar isso?
Jane Shepard só foi ganhar um trailer e uma capa no Mass Effect
3. Cinco anos depois!! Antes disso era só uma personagem meio genérica do jogo
com cabelo vermelho. Só ganhou uma aparência distinta e um cabelo exclusivo no
terceiro jogo.
Um dos grupos que participo, um gringo, o cara me diz
"Jogos com personagens femininos na capa vendem menos". Tipo, what?
Quer dizer que Tomb Rider tem vários jogos, spin-offs,
filmes, quadrinhos e tudo mais por qual motivo? Só por causa dos peitos
triangulares da Lara Croft? Se fosse assim, por que o reboot da série também
foi extremamente bem sucedido?
Outro jogo que, segundo o cara, deveria ter sido ruim seria
Overwatch. Afinal, a Tracer era a garota-propaganda de tudo que era relacionado
ao game? E o jogo é extremamente bem sucedido e já desbancou League of Legends
no mercado asiático.
Afinal, se jogos com personagens mulheres vendem bem, o que
aconteceu com os jogadores que criaram
tanta resistência ao personagem?
Vamos comparar, por um minuto, a Tracer com a FemRyder.
A Tracer é branca, na casa dos 20 anos, bonita, é meio
"moleca", meio bobona, animada, brincalhona. É uma garota legal que está
sempre de bom humor e fica "bonitinha" quando brava, e mesmo assim é
muito competente no que faz, sem ficar devendo em nada em poderes e habilidade
para nenhum outro membro do esquadrão Overwatch. Um tipo de garota que muitos
jogadores desses idealizam como "garota ideal" e que ficam procurando
pelas internet da vida (e quando acham uma, ficam xingando apenas por que ela
os derrotou nos jogos).
A FemRyder ainda não teve uma personalidade definida, mas os
produtores afirmaram que ela não será uma militar experiente como foi o Shepard.
Ela é branca, bonita, parece estar na casa dos 20 anos e o jogador poderá,
provavelmente, definir a personalidade dela através das ações e escolhas, o que
poderá resultar, se o jogador quiser, em uma personagem bem parecida com a
Tracer.
Até aí, se os jogadores aceitam a Tracer por que não aceitam
a FemRyder? Não há exatamente um motivo aparente aqui já que ambas poderão ser
praticamente iguais. Então, vamos parar e olhar os jogos delas.
Overwatch foi lançado a pouco tempo, conta a história de um
grupo de ex-agentes de algum tipo de forças especiais que salvou o mundo juntos.
E agora, ante a uma nova ameaça, esse grupo precisa se reunir novamente e
proteger o mundo mais uma vez. Tracer é um dos membros desse grupo, junto com
robôs, gorilas, homens e outras meninas. É um FPS e não há exatamente um modo
campanha que te leva a salvar o mundo. Você apenas dá tiros em outro jogador em
uma arena e quem sobreviver, vence. Nada demais aqui.
Mass Effect é uma trilogia lançada em 2007, onde um militar
renomado e já famoso por suas ações prévias, é convocado para liderar um grupo
de pessoas e salvar a galáxia de uma antiga e misteriosa raça alienígena que só
existia até então em lendas esquecidas. Shepard se torna o primeiro Espectro
humano, membro de uma força de paz intergaláctica e enfrenta diversos inimigos,
resolve conflitos entre raças alienígenas, lidera um exército que vem de várias
partes do cosmo, encontra o amor, e no fim, se sacrifica e muda o rumo de toda
a galáxia conhecida, a Via Láctea, se tornando uma grande lenda.
Caramba, quanta coisa esse personagem faz. Claro, que dadas
as devidas proporções, tempo de lançamento dos jogos, número de jogos e
materiais associados e o tipo de jogo (FPS contra um RPG), a história de Mass
Effect é muito mais grandiosa do que a de Overwatch. Shepard tem um papel muito maior do que o de
Tracer em seu universo. (O que não quer dizer que Overwatch é ruim. Longe
disso).
Tracer é um membro de um esquadrão e Shepard (o personagem
que, quando você pensa nele, lhe vem a cabeça a versão masculina dele. Afinal
todo o marketing criou para ele "aquela imagem"), é o líder de todo
um exército e salvador da galáxia. Várias vezes o personagem é referido como um
tipo de "Space Jesus".
Tracer tem que ser
balanceada e, ao mesmo tempo, distinta dos outros jogadores. Shepard pode ser
equipado com a melhor arma, armadura e ser muito superior ao resto do
esquadrão. Dadas as devidas proporções, considerando os tipos de jogos, podemos
afirmar que Shepard é um ícone muito maior do que Tracer.
E, aparentemente, estes jogadores não conseguem enxergar a Tracer
(ou no caso, a FemRyder, que pode ser alguém muito similar) fazendo tudo o que
Shepard (aquele do trailer, do marketing) fez ou faz.
Os jogadores parecem que estão com dificuldades de aceitar
que uma moça de 20 e poucos anos poderá ser um ícone, um herói tão grande
quanto o que foi o Shepard. Aquele Male Shepard da capa dos três primeiros
jogos: de barba mal feita, cara de mau, cicatriz na testa e armado com um rifle
fodão. Para estes jogadores, o cara, na casa dos 30 anos, branco e musculoso é
que será o grande salvador do universo. O "Space Jesus" não pode ser
uma garota.
Ou como uma moça em um grupo de Mass Effect: Andromeda, no
Facebook, disse:
" Penso que é
questão de como homens são treinados pra se enxergar, socialmente eles são provedores,
altos profissionais, 'protetores', homens são poderosos 'by default', e é o que
vc espera de um personagem masculino sem questionar. Mas mulheres são fracas e
precisam ser defendidas, então uma personagem feminina forte pra eles é irreal
e até ofensivo. O fato dela ser 'básica' e jovem reforça isso, pq mulher só 'domina'
pela beleza, uma garotinha sem graça não serve pra ser herói."
" Uma garotinha sem graça não serve pra ser herói"? Serve SIM!!
Parece, na minha opinião, que estes jogadores tem medo da
FemRyder. Mas, não dela, e sim do que ela poderá representar: a libertação da
mulher do "homem by default".
Do medo do " homem by default "
se tornar descartável, obsoleto. De ele não ter nada a oferecer além de uma
força e proteção que a mulher já não precisaria mais.
Como a amiga disse: homens
são treinados pra se enxergar, socialmente eles são provedores, altos
profissionais, 'protetores', homens são poderosos 'by default'. Agora, o
que acontece com esse "homem by
default" se a mulher não precisa dele? Se o " homem by default" não tem ninguém para proteger. Se a mulher
se torna uma provedora, melhor profissional, forte e poderosa? Qual será então
a função do "homem by default" no
mundo?
"Gerar filhos", dizem eles em diversas discussões sobre empoderamento feminino, direitos homossexuais
e feminismo ("sem os homens vocês não estariam nem aqui"). Sim,
concordo. Não é possível a reprodução sem o homem e a mulher, dois iguais não reproduzem,
aparelho excretor não reproduz, etc.. etc... Biologicamente falando, essas
afirmações não poderiam estar mais corretas.
Agora, com mais de 7 bilhões de pessoas no mundo. Água doce
acabando, clima mudando, sem espaço para fazer as cidades crescerem, animais
sendo extintos por caça humana predatória, intolerância e guerras, mortes por
atentados terroristas e tudo o mais que vemos acontecendo no mundo todos os
dias, a gente REALMENTE PRECISA DE MAIS GENTE NO MUNDO? Orfanatos e ruas estão
bem cheios e um casal não precisa necessariamente fazer uma nova criança para
ter um filho, se quiser.
Realmente, a única coisa que o homem teria a oferecer as
mulheres do novo século, cada vez mais independentes, livres e fortes, é só o sêmen?
(Sinceramente, eu acho que poderíamos até relacionar esse
medo da extinção do "homem by
default" com o número de casos de estupro que vem acontecendo
ultimamente. Como se fosse uma forma de tentar intimidar as mulheres e as
forçarem a "voltarem para a proteção deles". Mas nem vou ficar me alongando aqui.)
Claro que existem ainda mulheres que desejam ser mães e
esposas. Nem toda a mulher do mundo quer ser, ou precisa obrigatoriamente, querer
assumir esses ideais feministas de internet. Nem toda a mulher precisa deixar
de depilar a axila e sair vomitando na rua e gritar "morti aos hômi"
para ser feminista.
Não da para termos, no mundo, um pouco de igualdade e que os
"homem by default" passem a
ser mais tolerantes com uma mulher forte e que poderá um dia "salvar o
universo"? Que eles tenham mais a oferecer ao invés apenas de liquido
seminal?
Alguns destes jogadores ainda dizem "não faz diferença
quem é na capa. Não faz diferença se tem um pênis ou vagina virtual que eu
nunca vou ver". Então, se não faz diferença, deixem a FemRyder ser a capa.
Parem de ficar exigindo da Bioware uma capa "neutra" como a de Dragon
Age Inquisition (que não é nada neutra).
"Fala em igualdade,
mas tá aí defendendo a personagem feminina". Ok. Vamos então ter
igualdade. Mass Effect teve três jogos com o BroShepard na capa, então, vamos
igualar e ter três com a FemRyder.
O "homem by
default" precisa fazer o que todo o ser vivo faz para fugir da
extinção. Evoluir! Evoluir, mudar e se adaptar, adquirir conteúdo. Passar a dar
mais para elas do que apenas sêmen e uma 'pose de protetor e provedor' que elas
não precisam mais. Elas estão cada vez mais fortes e livres desse estereótipo
de "sexo frágil", e em breve, poderão até salvar a galáxia.
Eu quero mais é ver a FemRyder em todas as capas e materiais
promocionais do jogo. Viva a FemRyder. Viva a libertação da mulher do "homem by default". Viva a Tracer e
todas as personagens mulheres fodonas. Não precisa ter medo de se tornar
obsoleto. Evolua. Não precisa ter medo de ser superado. Seja parceiro.
Agora, não gosta da ideia da FemRyder na capa de
todos os Mass Effect novos? Beleza, vai sair um novo God of War para vocês
ficarem admirando o peitoral e a barba do Kratos.
ninguem tem medo, a não ser que seja a unica opção afinal o que para mim fez mass effect ser unico é que você tem a opção de criar totalmente seu personagem, como por exemplo, sexo, aparencia e origem, muito parecido com o classico tambem da bioware Kotor Kinghts of the old republic que foi o primeiro jogo deles com criação de personagem, escolhas e finais diferentes
ResponderExcluirQuer uma resposta clara e definitiva?? Geração mimimi. Reclamam de qualquer coisa. Eu joguei a trilogia ME como mulher e acho que sim, na minha opinião, ela possui mais autonomia. Mas não desrespeito quem goste do John Shepard. Em Dragon Age, no 1 foi de Homem, no 2 foi de Mulher e no Inquisition foi de Homem. Isso varia de cada jogador. Mas falar que mulher vende menos? Quem disse isso nunca viu gráfico de vendas de revistas play boy kkkkkkk
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