Legiao Urbana - Faroeste Caboclo
A música de
nove minutos que tocava inteira nas rádios do Brasil (na época havia uma mania
feia nas rádios de cortarem os trechos maiores para que a música ficasse em até
3 minutos. Solos muito grandes, intros, tudo era mutilado sem dó), contava a
historia de um homem que vai do céu ao inferno (duas vezes) em Brasília.
Acho que
todos legionários queriam ver essa historia em um filme, considerando que a
música nunca chegou a ter um clipe, pelo menos não um clipe daquelas com
histórias, talvez um clipe com os músicos tocando no show.
Então ficamos
meio carentes de ver toda aquela saga acontecendo e cada um criou na sua cabeça
um cenário, um personagem, um João e uma Maria Lucia individual. Na sua cabeça
cada um era de uma forma, as coisas aconteciam a sua maneira.
E esse
“monstro da expectativa” pode acabar com o filme antes mesmo de começar.
Faroeste
Cabloco é um filme dirigido por René Sampaio, que
está em produção desde 2005. Mas, por diversos contratempos, problemas de
agenda, briga judicial pelos direitos da música só estreou em 2013.
Para começar, eu NUNCA pensei em “Santo Cristo” como o
lugar de onde ele veio, para mim Santo Cristo era o sobrenome dele. Mas, ok.
Não era.
João (Fabrício Boliveira) era um garoto pobre que vivia
na cidade de Santo Cristo (supostamente na Bahia), criado só com a mãe após o
pai ser assassinado por um policial, motivado por uma briga em um bar, quando
João tentou roubar uns doces.
Quando a mãe morre, ele mata o policial, é preso e vai
para a Febem até fazer dezoito anos. Saí da Febem, vai para Salvador, a parte
do “boiadeiro com quem foi falar” é resumida em um cara com chapéu de cowboy
que aperta a mão dele em frente a porta do ônibus, em direção a Brasília.
Chega a Brasília e vai atrás de seu primo Pablo (César
Troncoso), um traficante de maconha que vive na Ceilândia, e está atrapalhando
os negócios de Jeremias (Felipe Abib), o grande traficante da região.
O filme se passa no começo dos anos 80, o que dá a
impressão que este filme e “Somos tão Jovens” acontecem ao mesmo tempo.
Inclusive uma cena de Maria Lucia em uma festa de rock, a banda no palco é o
Aborto Elétrico, a primeira banda de enato Russo, mas, devido a época de
produção (Faroeste começou em de 2005 e Somos tão Jovens em 2011) seria
impossível isso acontecer.
João se torna carpinteiro, se envolve nos negócios de
Pablo, de entregar drogas aos playboys da cidade e é perseguido pela policia,
que está atrás de saber quem é a concorrência de Jeremias.
Fugindo ele entra na casa de Maria Lucia (Isis Valverde),
uma menina que estuda engenharia, frequenta as festas de rock da cidade,
maconheira, filha de um politico.
Começa aí uma historia de amor entre eles.
Amor, vingança, uma cena de sexo desnecessariamente
longa, deixaram o filme com cara de novela da Globo. O filme tenta incluir
elementos de western, para fazer valer o “Faroeste” no nome, mas, as coisas não
encaixam e voltam rapidamente para a “cara de novela”. Além de usar os trechos
da música como falas que, novamente, soam forçado.
Aquilo que na música parece um Romeu e Julieta se torna
uma briga entre traficantes com altos e baixos, reviravoltas entre quem está
por cima e termina em um duelo que é resolvido apenas por um desvio de olhar.
Agora o Doido comenta.
As coisas não acontecem na mesma ordem da música, mas,
poderia ter acontecido. Outras coisas foram eliminadas, como os espectadores
assistindo o duelo (claro que eu não esperava um sorveteiro no meio do
tiroteio, mas pelo menos a TV filmando poderia ter aparecido).
O “senhor de alta classe” também não existe no filme, o
que tirou um pouco do fator “redenção” do protagonista.
Para mim, este João de Santo Cristo do filme era um
bandido, sempre foi, nunca deixou de ser, ele apenas se afastou um pouco por
causa da Maria Lucia, mas na realidade a essência dele sempre foi “caótico
mau”.
Ao contrario do João da música, que era um bandido, se
redimiu ao conhecer Maria Lucia completamente e depois se viu envolto em uma
rede de problemas e aquele Jeremias que surgiu do nada, que o forçou a chegar
ao duelo e morrer.
Para mim, o João da música era vitima das circunstâncias,
era bandido, pai morto, foi pro inferno pela primeira vez, conheceu uma menina
linda e se arrependeu, depois o Jeremias casou com a Maria Lucia, inferno
segunda vez, duelo, winchester 22, morte.
O que causou para mim esta impressão talvez foi
exatamente a falta da cena do “senhor de alta classe”, por que, para mim, este
é o ponto em que tudo começa a ruim novamente na música e sem isso, o João
aparentemente nunca se redimiu de verdade. Ele volta a ser carpinteiro, mas é
nunca deixou aquilo de traficante para trás, e quando é pego por Jeremias e
seus amigos, violentado, espancado e levado preso só reforçou a maldade dele.
Jeremias é uma das minhas principais frustrações em
relação ao filme. Na música, Jeremias aparece de repente, ele surge do nada e
já chega querendo destruir tudo que João tinha construído até ali, desvirgina
mocinhas inocentes, casa com Maria Lucia e toca o terror geral.
Para mim Jeremias era tipo “uma força da natureza”, um
furacão, um tsunami, que passa e causa destruição por onde passa,,
incontrolável, destruidor. Era como o Coringa no filme Batman – The Dark
Knight.
No filme, Jeremias é um traficante conhecido,
estabelecido, dominando a região. É maluco, é mau, mas, não é aquilo que eu
imaginava. Ele é ruim, mas ao mesmo tempo é um cara apaixonado pela Maria
Lucia, fica ali, olhando para ela com cara de “Poxa, por que ela não fica comigo...”
meio que um adolescente apaixonado. Uma coisa que o Jeremias da minha cabeça
não faria.
Na música Jeremias atira por trás, a traição mesmo sem se
importar com nada. No filme, ele atira após um rápido desvio de olhar do João.
Ou seja, um grande vilão que atira pelas costas se tornou apenas alguém que viu
uma oportunidade e aproveitou a vantagem.
Maria Lucia, sempre foi a “menina linda”, para mim ela
sempre foi uma moça pura, virginal que conhece o rapaz e se apaixona. Nunca
pensei nela como drogada “vida loka”. Então foi boa a profundidade que deram
para ela. Ela ia ser só uma menina que aparece por ali, mas não se tornou
alguma coisa muito maior. Longe de ser apenas aquela “Julieta” que morre junto
com seu amado. No filme ela faz um sacrifício por João. Você sabe qual é, mas
nunca pensou nele assim, como sacrifício. Na música é apenas algo que
acontecia, no filme se torna algo mais.
O personagem mais legal, para mim, é o Pablo. Ele é meio
zoeira, meio satírico. Ele é mais do que só um contrabandista de bagulhos
boliviano. Pablo se torna um traficante, explora o comercio da cidade com as
tais “taxas de proteção”, e também faz um grande sacrifico por João, mesmo
depois de João virar as costas pra ele. Tornando ele assim um personagem que é
leal a seus amigos e família.
E mesmo com toda essa diferença da música para o filme,
não faz isso um filme ruim, é apenas o “monstro da expectativa” falando o que
ele esperava e o que aconteceu.
Muitas pessoas devem ter na sua cabeça uma historia muito
mais dramática, aventuresca e emocionante (e que não ficou com cara de novela
da Globo) para a saga de João de Santo Cristo e ao ver uma coisa diferente na
tela, acha que não está bom, que falta alguma coisa.
É isso que eu senti. Mas, o filme ainda é bom mesmo
assim.
Claro, parece novela, a maioria das coisas que a Globo
filmes coloca a mão fica com cara de novela, provavelmente será dividido em
três partes e será exibido como mini série após a novela das oito quando for
para a tevê.
E ainda assim continuará bom.
Então, pode ir ver sem medo. Deixe seu monstrinho em
casa, esqueça um pouco da sua historia particular de João, Maria e Jeremias, e
veja o que o Sr. René fez para você, pequeno legionário.
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